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Bacteremias: entenda como as bactérias bucais podem afetar a saúde do coração

Bacteremias: entenda como as bactérias bucais podem afetar a saúde do coração

Garantir a saúde bucal é, sem dúvidas, a maior preocupação e o grande objetivo de todas as áreas da odontologia. O que poucas pessoas sabem é que problemas bucais podem afetar não somente os dentes, mas diversas outras partes do organismo, incluindo o coração.

Infecções crônicas na boca podem gerar consequências sérias, como as bacteriemias, processo no qual há a invasão de bactérias na corrente sanguínea. No entanto, as bacteriemias podem ter origem também durante a realização de procedimentos odontológicos, reforçando a importância das boas práticas clínicas e cuidados profiláticos.

O que são bacteriemias?

Como mencionado, bacteriemias são infecções bacterianas de origem localizada que acabam entrando na corrente sanguínea, disseminando-se para qualquer parte do corpo.

A infecção crônica dos tecidos periodontais é um importante fator desencadeador de bacteriemias. Os tecidos periodontais são um conjunto de tecidos que dão sustentação aos dentes e permitem sua inserção nos ossos alveolares, sendo constituídos pela gengiva, osso alveolar, cemento e ligamento periodontal. Como a região periodontal é ricamente vascularizada, as bactérias presentes na região podem entrar na corrente circulatória, disseminado pelo organismo.

Essa invasão é chamada de bacteriemia transitória, pois sua duração varia de minutos até horas após a intervenção [1,2]. Elas podem ser causadas também após um tratamento odontológico, ou por atividades rotineiras como escovação, mastigação e hábitos de higiene.

Como as bacteriemias podem afetar o coração?

Na maioria dos casos, as bacteriemias transitórias não são clinicamente significativas. No entanto, a depender de certos fatores, elas podem gerar consequências grave para a saúde do paciente.

Na corrente circulatória, as bactérias podem causar lesões na parede dos vasos sanguíneos, o que possibilita a instalação e multiplicação dos microrganismos. Em vasos coronarianos, esse processo facilita também a deposição de gorduras (como o colesterol), gerando a obstrução dos vasos e necrose do tecido cardíaco.

Outro grande problema associado às bacteriemias transitórias é a endocardite infecciosa, um processo inflamatório do endocárdio (tecido de revestimento interno do coração) que pode acontecer em pessoas que possuam histórico de doenças cardíacas, por exemplo.

A endocardite infecciosa resulta basicamente da combinação de dois fatores: lesão cardíaca congênita ou adquirida, ou devido a alterações no sistema imunológico. Caso haja uma lesão no tecido interno do coração ou nas válvulas cardíacas (alterações congênitas), as bactérias que trafegam nos vasos sanguíneos se instalar e multiplicar-se, gerando um processo infeccioso de proporções imprevisíveis que pode levar a desfechos graves como a insuficiência cardíaca.

Normalmente, os microrganismos de uma bacteriemia, são destruídos pelas células de defesa e pelos anticorpos do sistema imunológico. Contudo, se os mecanismos defesa não funcionarem corretamente, as bactérias não são eliminadas, multiplicando-se rapidamente e gerando quadros infecciosos graves e potencialmente fatais.

Esse é o caso de pessoas que tenha o sistema imunológico alterado ou debilitado, como em doenças como o lúpus eritematoso. Nestes casos, é fundamental adotar medidas profiláticas durante procedimentos odontológicos e higiene bucal adequada para prevenção da doença.

Em geral, a endocardite infecciosa de origem bacteriana é causada em 95% dos casos por infecção por bactérias estreptococos do grupo St. salivarius e St. Mitis e do grupo enterococos e estafilocos (espécies St. aureus e St. albus). Esses são microrganismos presentes nas regiões da nasofaringe, orofaringe e boca que podem passar para a corrente sanguínea durante a execução de medidas terapêuticas, inclusive cirúrgicas.

Relação das bacteriemias com procedimentos odontológicos

O sulco gengival, local que limita a superfície dentária do tecido gengival, é uma região naturalmente habitada por bactérias, principalmente por estreptococos. Quando há processo inflamatório, o sulco gengival se transforma em uma bolsa periodontal que apresenta características microbiológicas complexas e agressivas [3].

Portanto, manipulações odontológicas desses tecidos aumentam consideravelmente os riscos de bacteriemias na corrente sanguínea e linfática. Estudos científicos apontam que a incidência de bacteriemias transitórias após procedimento de extração de dentes (exodontia) aumenta conforme o agravamento da doença periodontal [4].

No entanto, não somente o procedimento de exodontia representa riscos. Estudos consolidados da literatura confirmam que a ocorrência de bacteriemias também é relatada após técnicas de profilaxia, como remoção de tártaro, curetagens gengivais, entre outros procedimentos [5].

Uso de profilaxia antibiótica antes de procedimentos odontológicos invasivos

É consenso que qualquer procedimento destinado a reduzir a quantidade de bactérias presentes na boca, afetará a potencial bacteriemia resultante [6]. Neste contexto, a profilaxia antibiótica pode ser uma boa alternativa como forma de prevenção. No entanto, ainda não há um consenso científico sobre a eficácia desse tipo de abordagem em procedimentos invasivos.

Visando responder esse questionamento, um recente estudo científico buscou avaliar a eficácia da profilaxia antibiótica como forma de prevenção de bacteriemias após procedimentos de extração dentária [7].

Na pesquisa, foram avaliados 50 pacientes submetidos à extração dentária que receberam doses únicas de amoxicilina oral profiláltica ou ampicilina intravenosa (2g), ou clindamicina (600 mg), ou não receberam profilaxia. A escolha de qual profilaxia antibiótica para cada paciente considerou o estado de saúde do mesmo, bem como possíveis alergias ao medicamento em questão. Ao todo, 76% dos pacientes receberam amoxicilina ou ampicilina intravenosa, 12% receberam clindamicina e outros 12% não receberam profilaxia [7].

Foram coletadas amostras de sangue em culturas 5 minutos após a primeira extração e 20 minutos após a última extração dental. De acordo com os resultados, a prevalência de bacteriemias foi significativamente maior nos pacientes que receberam clindamicina ou sem profilaxia quando comparados ao uso de amoxicilina ou ampicilina 5 minutos após a primeira extração [7].

Estes resultados foram ainda mais contundentes 20 minutos após a última extração dental, onde só houve relato de bacteriemia nas amostras que utilizaram clindamicina ou não fizeram profilaxia prévia [7].

Portanto, o uso adequado de amoxicilina ou ampicilina é eficaz na redução da prevalência e duração da bacteremia após o procedimento de extração dentária. Por outro lado, o antibiótico clindamicina provou não ser totalmente eficaz na prevenção de bacteriemias após procedimentos invasivos, sendo indicado seu uso apenas em casos específicos devido a alergias medicamentosas [7].

A Clínica Dr. Sérgio Lima assume o compromisso de trazer informações relevantes, atuais e com fontes confiáveis para você se manter sempre atualizado sobre as diversas áreas da odontologia.

Somos especializados nas áreas de Periodontia, Implantologia e Prevenção, sempre focados em proporcionar um atendimento de excelência a todos os pacientes por meio do que há de mais moderno em termos de procedimentos e equipamentos.

Referências:

[1] Bartels, H. A. (1940). A review of recent literature dealing with transient bacteriemias. American Journal of Orthodontics and Oral Surgery, 26(4), 366-373.

[2] Cobe, H. M. (1954). Transitory bacteremia. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, 7(6), 609-615.

[3] Engstrom, B. (1964). The significance of Enterococci in root ranal treatment. Odontol Revy, 15, 87-105.

[4] Bender, I. B., & Pressman, R. S. (1945). Factors in dental bacteremia. The Journal of the American Dental Association, 32(13), 836-853.

[5] Kinane DF, Riggio MP, Walker KF, MacKenzie D, Shearer B. Bacteraemia following periodontal procedures. J Clin Periodontol. 2005 Jul;32(7):708-13. doi: 10.1111/j.1600-051X.2005.00741.x.

[6] Bender, I. B., Seltzer, S., & Yermish, M. (1960). The incidence of bacteremia in endodontic manipulation: preliminary report. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, 13(3), 353-360.

[7] Marttila, E., Grönholm, L., Saloniemi, M., & Rautemaa-Richardson, R. (2021). Prevalence of bacteraemia following dental extraction–efficacy of the prophylactic use of amoxicillin and clindamycin. Acta Odontologica Scandinavica, 79(1), 25-30. doi: 10.1080/00016357.2020.1768285.

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