Clínica Dr. Sergio Lima

A profilaxia dentária pode influenciar na incidência de bacteriemias?

A profilaxia dentária pode influenciar na incidência de bacteriemias?

As bacteriemias podem trazer sérios riscos à saúde do paciente, especialmente para o coração. Em nosso último conteúdo, abordamos em maiores detalhes o que são as bacteriemias, como elas podem afetar a saúde cardíaca e a importância da adoção de profilaxia antibiótica prévia antes de realizar procedimentos invasivos, como a extração de um dente (exodontia).

De fato, a realização de procedimentos odontológicos constitui um dos fatores que podem possibilitar a entrada de bactérias na corrente sanguínea, principalmente na região periodontal. O tecido periodontal possui em sua composição um grande número de vasos sanguíneos, o que o torna sensível à ocorrência de bacteriemias em procedimentos invasivos, assim como em técnicas de profilaxia dentária.

Associação entre técnicas de profilaxia dentária e as bacteriemias

A profilaxia dentária é o conjunto de medidas preventivas e terapêuticas realizadas na área da odontologia com o objetivo de preservar e manter a saúde bucal e prevenir doenças bucais.

Dentre os procedimentos adotados na profilaxia, inclui-se a limpeza dental realizada em consultório, a aplicação de flúor e o ensino de técnicas de higiene bucal ao paciente. A profilaxia dentária é uma forma eficaz de prevenir a cárie, a doença periodontal e outras condições bucais, além de preservar a aparência e funcionalidade dos dentes.

No entanto, em alguns casos, a utilização dessas técnicas pode possibilitar a incidência de bacteriemias. Estudos científicos foram capazes de detectar bacteriemia em até 50% de pacientes com periodontite (inflamação na região das gengivas) que fizeram a utilização de Waterpik, um dispositivo de jato de água utilizado em procedimentos dentais para limpeza e massagem de gengivas, remoção de placa bacteriana, entre outros [1]. Já em pacientes com gengivite, o emprego do Waterpik resultou em 7% de ocorrência de bacteriemias [2].

Utilização do ultrassom em procedimentos de profilaxia

Outro procedimento muito utilizado na profilaxia são as raspagens ultrassônicas para remoção de placa bacteriana, tártaro e outros depósitos dos dentes e das gengivas. A técnica envolve o uso de um instrumento ultrassônico que emite ondas de som de alta frequência que vibram rapidamente, causando a remoção de depósitos.

Segundo um estudo científico, em pacientes com inflamação periodontal a utilização de raspagem ultrassônica resultou em aproximadamente 73% de ocorrência de bacteriemias. Apesar destes resultados, os autores não encontraram diferenças estatisticamente significativas entre raspadores manuais e ultrassônicos [3].

A água utilizada para irrigação durante os procedimentos de raspagem ultrassônica potencialmente pode ser um importante fator contaminante e contribuir para a ocorrência de bacteriemias. Para melhor responder a essa hipótese, pesquisadores avaliaram se a água usada na irrigação durante a raspagem ultrassônica, esterilizada ou não, influenciaria na bacteriemia pós-operatória [4].

Os resultados encontrados não demostraram diferença estatisticamente significativa na utilização de água esterilizada ou água de torneira, com graus de bacteriemia semelhantes entre as duas condições. Portanto, a irrigação com água de torneira na raspagem ultrassônica não parece ser um agente causal significativo nas bacteriemias pós-operatórias [4].

Em outro estudo conduzido pelo Dr. Sérgio N. M. Lima e Dra. Izabel Yoko Ito (1975), verificou-se a ação da raspagem ultrassônica na placa bacteriana da área cervical dos dentes, supra e subgengival de pacientes, usando-se como substância de irrigação água destilada, cloreto de cetilpiridínio (Cepacol ®) e a nebulização.

Em resumo, os resultados do trabalho confirmam achados anteriores em que a raspagem ultrassônica pode ser capaz de produzir bacteriemias transitórias nos pacientes. Entre os resultados apresentados, um dos que chamaram atenção foi a porcentagem de 72% para bacteriemias positivas em pacientes que foram anestesiados antes do procedimento.

Uma possível explicação é que ao anestesiar o paciente, a ponta do aparelho em vibração ultrassônica penetra mais profundamente no sulco gengival, aumentando a agressão ao tecido nessa região, o que facilita a entrada de bactérias na circulação sanguínea. No entanto, ao comparar estes resultados com pacientes que não foram anestesiados, não houve diferenças estatisticamente significativas. Portanto, a incidência de bacteriemias durante procedimentos de raspagem ultrassônica independe da anestesia.

Em procedimentos de nebulização com água, ou seja, quando o aparelho de ultrassom não entra em contato direto com o dente ou no sulco gengival, o estudo demonstrou apenas uma pequena possibilidade de ocorrência de bacteriemias. Por fim, o estudo não demonstrou existir correlação entre as bacteriemias observadas com outros fatores, como sexo do paciente, idade ou o índice de higiene oral.

É importante destacar que, apesar da técnica de raspagem por ultrassom gerar bacteriemias, estas são de curta duração e sem relevância clínica na maioria dos casos, assim como ocorre em outros procedimentos cirúrgicos e de profilaxia.

Em pacientes que apresentam algum grau de risco, como a presença de antecedentes de febre reumática aguda ou doenças cardiovasculares (incluindo problemas de válvulas cardíacas), medidas preventivas devem ser adotadas ao realizar este tipo de procedimento. Estes pacientes são particularmente preocupantes devido ao risco de desenvolvimento de endocardite bacteriana, devendo-se adotar métodos de antissepsia para a cavidade bucal antes do procedimento.

A Clínica Dr. Sérgio Lima assume o compromisso de trazer informações relevantes, atuais e com fontes confiáveis para você se manter sempre atualizado sobre as diversas áreas da odontologia.

Somos especializados nas áreas de Periodontia, Implantologia e Prevenção, sempre focados em proporcionar um atendimento de excelência a todos os pacientes por meio do que há de mais moderno em termos de procedimentos e equipamentos odontológicos.

Referências:

[1] Felix, J. E., Rosen, S. & App, G. R. (1971) Detection of bacteraemia after use of an oral

irrigation device in subjects with periodontitis. Journal of Periodontotogy 42, 785-787.

[2] Romans, A. R. & App, G. R. (1971) Bacteraemia, a result from oral irrigation in subjects with gingivitis. Journal of Periodontology 42, 757-760.

[3] Bandt, C. L., Korn, N. A., & Schaffer, E. M. (1964). Bacteremias from ultrasonic and hand instrumentation. The Journal of Periodontology, 35(3), 214-215.

[4] Reinhardt, R.A., Bolton, R.W., and Hlava, G. (1982). Effect of nonsterile versus sterile water irrigation with ultrasonic scaling on postoperative bacteremias. J. Periodontol. 53, 96–100.

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